segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tempos de Borboletas

Fechou os olhos e estufou o peito. Deu o primeiro passo naquele labirinto e as portas se fecharam às suas costas. Se viu estampada em um espelho. Não se reconhecia mais. Seu reflexo não correspondia a realidade. Quando seus olhos de céu ficaram nublados? Quando seus cabelos de ouro perderam o brilho? Quem tirou-lhe o sorriso do rosto?
Forçou-se a sorrir. Não ganhou beleza seu reflexo. Seu sorriso pré-fabricado não valia mais. Um par de olheiras circundavam seus olhos de nuvem e uma gota de chuva escorrereu daquele céu triste. Correu-lhe pelo rosto lágrimas laminadas. Por que ninguém enxugava suas lágrimas?
O choro virou chuva e a garoa se transformou em tempestade. Mais do que a chuva, o mundo caia sobre os seus ombros naquele momento.
Paredes de espelhos prendiam-lhe em um labirinto.
Seu corpo estava preso em um labirinto de espelhos que a sua alma havia construído. Correntes lhe prendiam no chão. Seus punhos cerrados e seus dedos ossudos apertavam-se com uma força que doía no coração.
Tinha seu coração na palma das mãos e apertava-lhe, espremendo todos os sentimentos surtes que seu sangue guardava.
As paredes espelhadas escorriam em sangue, chuva e lágrimas.
Puxou as correntes. Sua força não era o bastante. Forçava seu corpo, mas as correntes lhe prendiam. O sangue escorria de seus punhos cerrados.
Fechou os olhos, fez da dor conforto, deixou que o vento secasse suas lágrimas.
Quebrou as correntes.
Correu sua liberdade pelas paredes de um labirinto.
Perdeu-se no seu reflexo de perfeição, no seu corpo magro, no reflexo dos seus olhos de céu nublado, de olhos que chovem. Perdeu-se no sangue e na chuva... Perdeu-se no choro e no suor...
Tropeçou nas suas inseguranças. Gritou no silêncio solitário de seus medos. Caligrafou com sangue nas paredes da sua prisão...
O céu chuvoso assusta quando se está sozinho... Por que ninguém lhe convidava para dançar? Queria dançar na chuva, mas não lhe pediam uma dança... Não lhe sussurravam uma melodia ao pé do ouvido para que valsassem.
Um céu de sorrisos é tão mais belo... Por que o céu não sorria mais para ela? Sua alma doía, e ela preferia que seu corpo doesse... Se pode estancar um sangramento quando isso vem de fora, mas e quando é a sua alma que sangra? Por que não lhe massageavam a alma? Sua alma chorava e escorriam suas palavras de sangue pelas paredes do labirinto.
Mas a dor não lhe confortava mais... Quis livrar-se do sangue, das lágrimas... Quis transformar o barulho da chuva em melodia, e dançaria sozinha... Desejou transformar o labirinto em passado.
Tentou em vão subir pelas paredes espelhadas da sua mente, mas seu esforço não era o bastante. Sangue, suor e lágrimas pingavam e castigavam o chão...
Deitou no chão gelado da sua silenciosa solidão. Teve sonhos tão belos... Desejou não acordar, mas o destino lhe traiu de novo.
Não abriu os olhos pois não queria se ver refletida nunca mais. Em um labirinto onde todos os seus obstáculos eram ela mesma, ela decidiu deixar-se guiar pelo seu corpo... Seguiu o cheiro das flores, o cheiro de mar... Ouviu a melodia doce de uma música nunca ouvida antes...
Apertou os olhos, e então, pulou.
Deixou seu corpo voar. Hora ferro, hora flor. Bateu suas asas de sangue com a maior liberdade que o mundo já havia lhe dado...
Planou no céu como uma borboleta de sangue, de espelhos, de suor e de lágrimas.
O céu lhe sorriu ensolarado, porque meu bem...
São tempos de borboletas.

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