sexta-feira, 30 de julho de 2010

José Diaz Perez


Os óculos aviador, a camisa xadrêz de flanela e a calça surrada que você fazia questão de usar. Os pés calçados de um chinelo velho, seu rosto refletia a sua humildade. Você já estava montado na sua bicicleta quando falou em palavras emboladas que estava saindo para aproveitar o sol quente que o verão do Guarujá oferecia. E já estava pedalando quando gritei pela janela que voltasse antes da 1:30h para que não perdesse o almoço. Com a mão, você fez um sinal de confirmação, enquanto sua imagem desaparecia entre os fortes raios do sol.

"Acidente rodoviário. Ciclista bate a cabeça após colidir com um ônibus. Traumatismo craniano. A vítima de apenas 37 anos, morreu 9 dias após o ocorrido, enquanto ainda estava internado em um hospital local, deixando sua mulher e três filhas."

E naquele momento eu estava sozinha, sentada frente ao seu túmulo. Aquele silêncio sepulcral. É como se eu sempre soubesse que acabaria assim. É, eu sempre soube, só não queria acreditar.
As badaladas do sino da igreja preenchiam os meus ouvidos, eu via o colorido das flores pelos meus olhos marejados. Ainda me lembro de como a minha avó ficou. Ela ainda estava sentada na soleira da porta. O rosto marcado pelas rugas do tempo, os olhos desiludidos pelas mágoas da vida. Pensando nas armadilhas que o destino armou pra ela, nas oportunidades que ela deixou pra trás.

José Diaz Perez faleceu deixando muito mais do que uma família. Ele faleceu deixando uma história. No dia 27/07/1964 faleceu o meu avô. Pai de família e herói, feito de ferro e flor.

2 comentários: