sexta-feira, 18 de março de 2011

Exército de Prata


Quebrou as correntes, quebrou os espelhos. Os olhos vermelhos, a fumaça no ar.
Ela era boa e sabia que era. Só que não o bastante. Ela aguentava muito, e sabia que aguentava. Só que não era o suficiente.
E chorava sem querer chorar quando a noite caía. E não conseguia fazer calar as vozes na sua mente.
A fumaça, os gritos, as correntes.
O perfume, as risadas, os carinhos.
Tinha medo de ir dormir por não saber o que lhe esperava ao acordar.
Sentia falta dos sonhos bons, amava o ódio que sentia pelo seu subconciente.
A fumaça, os gritos, as correntes.
Desejou calar as vozes pois cobiçava ouvir o soar dos sinos que anunciavam a chegada do exército de ouro. Mas ela era de prata.
Boa, mas nunca o bastante. As correntes, as risadas, os gritos, a chuva. Prata. Segundo lugar. Prata.
Pecava e sabia que pecava. Só queria deixar de ser um exército de prata.
O cheiro de final de estação, a fumaça, os gritos.
Um exército de prata comprimido na íris da menina.